Vitamina D
Estamos de volta e, como o prometido, nosso primeiro post do ano será sobre um pró-hormônio extremamente importante: a Vitamina D!
Juntamente com o paratormônio e a calcitonina, a Vitamina D é essencial no processo de regulação do cálcio plasmático dos animais de companhia. A deficiência deste hormônio está associada a uma série de patologias como a doença renal crônica e as enteropatias. À primeira vista, é impossível não associar este hormônio com a essa época do ano, afinal a síntese da vitamina D está intimamente ligada à exposição ao sol, certo? Nem sempre! Embora nós humanos consigamos sintetizar vitamina D em nossa pele, o mesmo não acontece com os nossos pets. Cães e gatos obtêm Vitamina D através da ingestão da vitamina D2 e D3 em sua dieta. Enquanto a vitamina D2 está presente principalmente em plantas, a vitamina D3 pode ser encontrada em altas concentrações em peixes como sardinha e salmão, nas gemas de ovos e no fígado. Em outras palavras: uma alimentação balanceada, seja ela natural ou industrializada é extremamente importante para manter a saúde dos nossos pacientes em dia, já que eles dependem exclusivamente dela para obter a vitamina D.
Na veterinária, duas formas de vitamina D são mensuráveis em amostras de soro: 25-hidroxivitamina D (25OHD) e 1,25-di-hidroxivitamina D (calcitriol). Isso acaba causando uma certa “confusão” no momento da solicitação da dosagem hormonal.O 25OHD é produzida pelo fígado e sua concentração é paralela à da vitamina D disponível, que pode ser de origem alimentar (colecalciferol (D3), ergocalciferol (D2)) ou produzida na pele de alguns animais sob a influência da luz ultravioleta. Como a hidroxilação enzimática da vitamina D no fígado depende quase inteiramente da disponibilidade do substrato, a mensuração de 25OHD é um excelente marcador do estado geral da vitamina D. Ela pode ser usada para diagnosticar tanto condições de deficiência quanto de excesso de vitamina D e, portanto, é extremamente valiosa na investigação de distúrbios hiper e hipocalcêmicos. Outras situações nas quais podemos esperar resultados anormais de 25OHD incluem: deficiências alimentares, síndromes de má absorção e intoxicações com rodenticidas. Algumas pesquisas ainda sugerem que baixas concentrações de 25OHD podem ser um fator de risco para insuficiência cardíaca congestiva (ICC) em cães. Existem extensas evidências de que a vitamina D tem ações cardioprotetoras por suprimir o sistema renina-angiotensina-aldosterona, diminuindo a hipertrofia miocárdica, inibindo citocinas pró-inflamatórias e melhorando a disfunção endotelial e aterosclerose. (Kraus, Rassnick, Wakshlag et al, J Vet Intern Med, 2014, 28, 109-115)
Já o calcitriol é produzido pelas células tubulares renais como resultado da ação enzimática (1α-hidroxilase) sobre o substrato 25OHD. A taxa desse processo é controlada pelas concentrações de paratormônio (o aumento do PTH causa aumento da atividade da 1α-hidroxilase). O calcitriol é a forma biologicamente mais potente de vitamina D e suas principais atividades são direcionadas ao aumento das concentrações séricas de cálcio, incluindo aumento da captação intestinal de cálcio. A falha das células tubulares renais em gerar calcitriol em casos de doença renal é um dos mecanismos que contribuem para o hiperparatireoidismo secundário renal (e da “mandíbula de borracha”). Portanto, a medição do calcitriol pode ter algum valor na compreensão da função tubular renal e dos efeitos do PTH no sistema da vitamina D. Em cães, gatos e na maioria das espécies domésticas, a absorção passiva de cálcio no intestino é baixa. Nessas espécies, a absorção intestinal de cálcio é quase exclusivamente mediada pela vitamina D. A situação é diferente em cavalos, coelhos nos quais há uma absorção passiva de cálcio significativamente maior e o status de cálcio é controlado mais por perdas renais. Nessas espécies, os efeitos da doença renal no status do cálcio serão diferentes dos da maioria das espécies comuns de mamíferos.
A metodologia considerada PADRÃO OURO para dosarmos a 25-hidroxivitamina D (25OHD) e a 1,25-(OH)2-Vitamina D (calcitriol) é a Cromatografia Líquida (HPLC e LC/MS/MS), contudo metodologias alternativas, como o Radioimunoensaio (RIE) e o Enzimaimunoensaio (EIE) também são usados na rotina de grandes laboratórios (p.ex: Michigan State University).
Abaixo alguns trabalhos publicados na literatura onde destacamos o método/kit empregado:
- 1,25-(OH)2 -Vitamin D- Immundiagnostik, Alemanha (Ensaio imunoenzimático)¹
- 25‐Hydroxyvitamin D 125I RIA Kit- DiaSorin, Scantibodies, BC, EUA ( Radioimunoensaio)²,³ *
* Observação: O fabricante deste kit migrou para a metodologia CLIA nos Sistemas LIAISON. Trata-se de uma quimioluminescência em “FLASH” diferente da metodologia mais conhecida e empregada nos laboratórios veterinários no Brasil, a quimioluminescência da empresa Siemens dos equipamentos da linha Immulite. Vale lembrar, que até o presente momento essa outra plataforma não dosa a vitamina D em seus equipamentos.
Vale lembrar que a Vitamina D na amostra sérica é susceptível a degradação pela luminosidade. É muito importante após a coleta sanguínea, fazer a separação do material (centrifugação no máximo até 1 hora após a coleta) e proteger esse soro acondicionando o material protegido da luz. Assim aconselhamos que, antes mesmo de iniciar a coleta, você separe seu tubo âmbar (modelos na foto abaixo) ou cubra o tubo que você tiver disponível com papel alumino. Depois disso é só congelar e encaminhar para o laboratório que irá realizar a dosagem para você. Esses passos são indispensáveis para garantir a qualidade da sua amostra e um resultado confiável!
Fotos: Modelos de microtubos âmbar com tampa de rosca (esquerda) e eppendorf (direita).
Fontes:
1. Osuga, T. et al. (2015). Vitamin D Status in Different Stages of Disease Severity in Dogs with Chronic Valvular Heart Disease. J Vet Intern Med.29(6): 1518-1523.
2. Kraus, M.S. et al. (2015). Relation of vitamin D status to congestive heart failure and cardiovascular events in dogs. J Vet Intern Med.28(1): 109-115.*
3. Wakshlag, J. J. et al (2011). Cross-sectional study to investigate the association between vitamin D status and cutaneous mast cell tumours in Labrador retrievers. Br J Nutr.106(S1): S60-S63
Texto elaborado por:
Dra. Gabriela Siqueira Martins
Veterinária, Corpo Editorial e Gestão de Projetos da empresa Pesquisas Hormonais e do Movimento Hormone Lovers
Dra. Priscila Viau Furtado
Veterinária, CEO fundadora da empresa Pesquisas Hormonais e do Movimento Hormone Lovers
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