A diabetes dos nossos pets é igual a dos seres humanos?

07/06/2021Blog

Em abril deste ano, a OMS lançou um novo pacto global para impulsionar esforços para prevenir e levar tratamento a todas as pessoas diabéticas. Segundo o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, “O número de pessoas com diabetes quadruplicou nos últimos 40 anos. É a única doença não transmissível importante para a qual o risco de morte precoce está aumentando, em vez de diminuindo, (…).”

As causas e o diagnóstico de diabetes em seres humanos são bem estabelecidos em qualquer parte do mundo, assim como a instituição do tratamento. E nossos cães e gatos? Podemos diagnosticar e tratá-los como pequenos seres humanos diabéticos?

A diabetes dos nossos pets é igual a dose seres humanos?

Durante um curso promovido pela MV MINDS sobre diabetes mellitus, vários profissionais, nacionais e internacionais, discutiram sobre estes pontos em relação á etiologia, diagnóstico e tratamento da diabetes em cães e gatos. A etiologia e o diagnóstico do paciente diabético foram muito bem elucidados pelo prof. Alan Poppl, vice-presidente da ABEV e professor da Universidade do Rio Grande do Sul entre outras atribuições dentro da endocrinologia veterinária. Existem inúmeras semelhanças e diferenças entre nós, seres humanos, e nosso pets. Nos humanos a diabetes tipo I, é relacionada com a deficiência total da produção de insulina pelas células beta presentes no pâncreas, em decorrência da destruição imunomediada e por isso o uso da insulina é essencial na terapia. Apesar de não possuir evidências da presença de anticorpos contra as células produtoras de insulina nos cães, há evidências da diminuição do número e do tamanho das células beta, o que os tornam também dependentes de insulinoterapia para não evoluírem para um quadro de cetose. A falta de comprovação imunomediada pode ser em decorrência do diagnostico tardio nestes pacientes. Os felinos por sua vez, apresentam evidências muito escassas de insulinite imunomediada, e apresentam um quadro muito semelhante ao diabetes tipo II dos seres humanos, que é marcado por uma obesidade importante, resultando em um quadro de resistência insulínica pelas diversas citocinas inflamatórias liberadas pelo tecido adiposo. Porém, muitos cães também apresentam no seu histórico, graus variados de obesidade e acesso ilimitado a petiscos altamente calóricos, o que poderiam predispor a quadros de resistência insulínica.

Outros quadros que podem estar associados com resistência insulínica seriam as doenças endócrinas como a Síndrome de Cushing, e o hipotireoidismo que acometem principalmente os cães e a acromegalia e o hipertireoidismo nos gatos. As cadelas apresentam ainda o diestro como um fator importante de resistência insulínica. Período, em que há um aumento dos níveis de progesterona e no estímulo da secreção de hormônio de crescimento pelas células mamarias, que diminuem a captação de glicose pelo tecido periférico e inibem a secreção de insulina pelas células pancreáticas. A influência dos hormônios sexuais nas cadelas é tão importante, que em países em que a castração não ocorre de forma corriqueira, as fêmeas são muito mais predispostas ao desenvolvimento da diabetes. E em países em que a maioria dos animais já são castrados, a predisposição para o desenvolvimento de diabetes é maior em machos de meia idade, em decorrência do ganho de peso excessivo principalmente ligado ao sedentarismo e à grande oferta de alimentos calóricos.

O diagnostico proposto para identificar o paciente com diabetes mellitus seria pela presença dos sinais clínicos, os famosos 4Ps do paciente diabético, poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. E para que isso aconteça, é necessário que os valores de glicemia ultrapassem o valor de absorção renal, marcado em 180 a 200mg/dl nos cães e de 250 a 300mg/dl nos gatos, e, portanto, estes pacientes apresentariam hiperglicemia e glicosuria persistente. O grande ponto aqui, seriam os pacientes que já apresentam uma glicemia maior que 120mg/dl, e menor que o limiar de absorção renal. Pois estes pacientes não irão apresentar manifestações clínicas evidentes, e se a comorbidade associada, principalmente aos quadros de resistência insulínica, for tratada, a chance de evoluir para um quadro de diabetes mellitus diminui drasticamente.

A terapia do paciente diabético é um leque de possibilidades. E este ano, a insulina comemora seu centésimo ano de descoberta, que possibilitou a sobrevida de milhares de pacientes humanos, além dos cães e gatos. Desde a sua primeira formulação até os dias de hoje, ela sofreu diversas melhorias e atualmente existem vários tipos de insulina com potências e durações variadas. Apesar de nem todos os humanos diabéticos fazerem uso de insulina, nossos pacientes independentes da causa são insulino-dependentes de forma transitória ou permanente. A dieta é outro fator importante na terapia do paciente diabético, é diferenciada entre os cães e gatos. Para os cães, uma dieta com alto valor proteico, presença moderada de lipídeos, maior teor de fibras e carboidratos complexos são recomendados para que haja redução da hiperglicemia pós prandial. Já para os felinos, a dieta tem uma importância ainda maior, pois, por serem carnívoros estritos, necessitam de um valor proteico maior, e de uma quantidade baixa de carboidratos, uma vez que possuem menor atividade das vias glicogênicas. Sendo assim, uma dieta que contribui para estas necessidades nutricionais dos felinos, são as dietas úmidas, principalmente as fornecidas em forma de sachê, que além de fornecerem as necessidades nutricionais, fornecem também maior volume hídrico e menor ingesta calórica, facilitando a resposta insulínica e facilita no manejo da perda de peso, uma das principais causas de diabetes em gatos. Por fim, a escolha do tipo de insulina e do alimento a ser fornecido varia de paciente para paciente, e não há uma “receita de bolo”, o tratamento do paciente diabético deve ser individualizado se baseando sempre no estilo de vida (do tutor e do paciente) e nas comorbidades associadas visando sempre a uma qualidade de vida melhor para ambos.

Referências:

Poppl AG., Mottin TS., Gonzalez FHD. 2013. Diabetes mellitus remission fter resolution of inflammatory and progesterone-related conditions in bitches. Research in Veterinary Science 94:471-473. (https://doi.org/10.1016/j.rvsc.2012.10.008) 

Behrend E., Holford A., Lathan P., Rucinsky R., Schulman R. 2018 AAHA Diabetes Management Guidelines for Dogs and Cats. Veterinary Practice Guidelines. 54:1-21. (DOI 10.5326/JAAHA-MS-6822)

 

Sparkes AH., Cannon M., Fleeman L., Harvey A., Hoening M., Peterson ME., Reusch CE., Taylor S., Rosenberg D.2015. ISFM Consensus Guidelines on the Practical Management os Diabetes Mellitus in Cats. Journal of Feline Medicine and Surgery 17: 235-250. (Doi: 10.1177/1098612X15571880)

 

Texto elaborado por:

 

foto raquel fukumori

M.V. Raquel Harue Fukumori

Veterinária, membra da Equipe de Endocrinologia Clínica de Cães e Gatos

Veja também:

Vitamina D

Vitamina D

Estamos de volta e, como o prometido, nosso primeiro post do ano será sobre um pró-hormônio extremamente importante: a Vitamina D!Juntamente com o paratormônio e a calcitonina, a Vitamina D é essencial no processo de regulação do cálcio plasmático dos animais de...

ler mais
O uso do AMH na conservação de animais selvagens

O uso do AMH na conservação de animais selvagens

Na semana passada falamos um pouco sobre o Hormônio Anti-Mülleriano e suas possíveis aplicações no diagnóstico de patologias e no acompanhamento reprodutivo de animais domésticos. Hoje pretendemos mostrar uma nova faceta deste hormônio incrível: a sua aplicação na...

ler mais
Conheça também

NOSSOS SERVIÇOS

Dosagens hormonais e demais parâmetros analíticos com suporte de especialistas

 

Planejamento completo para implantação de Laboratório de Dosagens em Silvestres

Assessoria para redação de artigo científico

 

Depoimentos

O que dizem sobre nós

Andresa Matsui

Médica Veterinária, MSc, Pesquisadora da Mérieux NutriSciences Brasil

"A parceria realizada com a empresa Pesquisas Hormonais foi muito satisfatória. O comprometimento da Priscila Viau com a qualidade, transparência e integridade na prestação do serviço foi imprescindível para os ótimos resultados obtidos em nossos projetos. A Pesquisas Hormonais é uma empresa que representa ética e respeito, comprometida com a segurança, confiabilidade e rastreabilidade das informações, desde a recepção das amostras até a entrega de resultados pontuais e confiáveis. Agradecemos à Pesquisas Hormonais pelo intercâmbio de conhecimento técnico advindo de nossa parceria."

Álan Gomes Pöppl

Médico Veterinário, Doutor em Ciências Veterinárias, Sócio-Fundador da ABEV - Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária, Professor do Departamento Medicina Animal da Faculdade de Veterinária da UFRGS e Coordenador do Serviço de Endocrinologia e Metabologia HCV-UFRGS e da Residência em Clínica Médica de Pequenos Animais

"Contar com o apoio de um serviço como este no âmbito de determinações hormonais é um privilégio, tanto na conduta de casos clínicos, como em termos de pesquisas clínicas na área de endocrinologia. Tenho a felicidade de contar com a colaboração e apoio desta equipe em pesquisas hormonais há alguns anos e só tenho a agradecer toda confiança e parceira que permearam todos estes anos."

Profa. Dra. Sofia Borin Crivellenti

Endocrinologia Veterinária
Clínica Médica de Pequenos Animais
Universidade Federal de Uberlândia - FAMEV/UFU

"Com o velho clichê "confiança é tudo", agradeço todos os momentos em que já pude contar com essa equipe incrível nas minhas pesquisas envolvendo dosagens hormonais. Confiança tem muito a ver com se colocar no lugar do outro, entender o que ele está passando e compartilhar seus problemas e anseios. Com atitude certa, profissionalismo e uma boa dose de confiança, essa equipe sempre me auxiliou a alcançar meus ideais dentro da endocrinologia veterinária."

Jamile Haddad Neta

Médica Veterinária
Doutoranda em Ciência Animal/Bolsista CAPES
Universidade Estadual de Londrina

"Tive a oportunidade de conhecer os serviços prestados pela Pesquisas Hormonais na ocasião do meu experimento de doutorado em que trabalhei com reposição estrogênica em felinos. Precisava de alguém muito confiável para dosar o estrógeno das gatinhas e busquei me informar sobre laboratórios que poderiam me oferecer este tipo de serviço. Minha orientadora ligou para alguns pesquisadores  e todos indicaram a Dra. Priscila Viau, tecendo comentários muito positivos a seu respeito. Mandei um e-mail e pude compreender, logo no primeiro contato telefônico, o motivo dela ser uma referência na área. Apesar de não conhecê-la pessoalmente, foi como se eu estivesse em todo momento a seu lado. Sua postura extremamente profissional, qualificada, responsável e detalhista fez com que eu me sentisse plenamente confiante de que minhas amostras não poderiam estar em melhores mãos.  Pude perceber também a existência de uma fluidez na comunicação entre os membros da equipe, por ocasião do pagamento e do rápido envio dos resultados.   Enfim, minha experiência com a empresa pode ser resumida em duas palavras:  Parabéns e Obrigada!"

Julyenne Christynne

Médica Veterinária Clínica Comportamentalista
Pós graduanda em Medicina Felina

"A maior vantagem foi ter contato direto com a empresa, sendo atendida em todas as dúvidas e muito bem orientada de como enviar o material de forma correta e executar os procedimentos com o material a ser analisado sem nenhuma dúvida, devido à clareza da equipe. O atendimento foi excelente e atendeu todas minhas expectativas. Recebi os resultados dentro do esperado, de forma explicativa e em formatos editáveis, o que facilitou a introdução dele dentro da pesquisa. "

Entre em contato!

 

(11) 94577-1708

@pesquisashormonais

@pesquisashormonaisvet

Se preferir, envie uma mensagem diretamente pelo site, preenchendo o formulário abaixo:

    Empresas parceiras

    logo premier site
    logo vet formula
    logo hhub site
    logo biosys site
    logo revista clinica veterinaria site
    Logo EJAV
    logo revista nosso clínico