O uso do AMH na conservação de animais selvagens
Na semana passada falamos um pouco sobre o Hormônio Anti-Mülleriano e suas possíveis aplicações no diagnóstico de patologias e no acompanhamento reprodutivo de animais domésticos. Hoje pretendemos mostrar uma nova faceta deste hormônio incrível: a sua aplicação na pesquisa da fisiologia reprodutiva e conservação de mamíferos selvagens. E para isso vou falar um pouco sobre a minha experiência no doutorado onde eu estudei o AMH em uma das espécies mais emblemáticas do nosso país, o lobo-guará!
Quando estudamos espécies selvagens uma das questões mais importantes a serem abordadas é como as mudanças ambientais e antropogênicas podem afetar populações de vida livre. E um dos indicadores mais efetivos deste tipo de estresse é a queda dos índices de fertilidade e sucesso reprodutivo na população. É aí que o AMH acaba sendo um grande aliado, já que ele é um excelente biomarcador da função ovariana, permitindo que a gente associe causas (p.ex: desmatamento, fragmentação de território) com consequências (p.ex: queda de índices reprodutivos e eventualmente diminuição da população).
O monitoramento de AMH também pode ser uma “mão na roda” para os programas de conservação em cativeiro já que através dele aprendemos mais sobre a função ovariana da espécie permitindo o melhoramento do manejo reprodutivo e, eventualmente, a aplicação de técnicas de reprodução assistida.
O lobo-guará é uma dessas espécies que se beneficiaria muito deste biomarcador: além de estar bem no centro de um dos biomas mais degradados do Brasil (cerrado) ele também sofre com baixo sucesso reprodutivo em cativeiro. Assim, parte do meu doutorado era (como um passo inicial) entender como o AMH se comportava em fêmeas desta espécie de acordo com três importantes pontos: idade, status de maturidade e sazonalidade.
Os resultados não apenas forneceram dados de concentrações basais para espécie, bem como comprovaram que o AMH pode ser um excelente indicador de maturidade sexual, além se sofrer variações importantes em relação à sazonalidade nas fêmeas adultas.
Este trabalho foi feito em parceria com o Smithsonian Conservation Biology Institute e com a Michigan State University e encontra-se em processo de publicação. Esperamos que em breve possamos compartilhá-lo por aqui!
Trabalhos citados:
MARTINS, G.S. Sobre hormônios e lobos: marcos da história de vida do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) sob a perspectiva endócrino-reprodutiva. 2020. 102 f. Tese (Doutorado em Reprodução Animal) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
Texto elaborado por:
Dra. Gabriela Siqueira Martins
Veterinária, Corpo Editorial e Gestão de Projetos da empresa Pesquisas Hormonais e do Movimento Hormone Lovers
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