Como escolhemos a revista ideal para seu artigo
Critérios Básicos
Se você tem uma tese/dissertação/artigo que quer publicar, então provavelmente você já leu um artigo científico. Mas como escolher a melhor revista pro meu artigo?
A primeira coisa que geralmente fazemos, é: onde estão sendo publicados esses artigos que você lê? Não precisa ser com base em todos os 100 artigos que você citou no seu trabalho, mas deve ter um pequeno conjunto dos principais artigos, aqueles que você mais cita. Esse provavelmente é o seu foco.
Assim que achar esses poucos (no máximo cinco), vá até o site da revista e veja o escopo dela. Um exemplo é a “Domestic Animal Endocrinology” e, no site da revista, consta a seguinte informação (traduzida):
“A Domestic Animal Endocrinology publica artigos científicos que tratam do estudo da fisiologia endócrina de espécies de animais domésticos. Aqueles manuscritos que utilizam outras espécies como modelos para problemas clínicos ou de produção associados a animais domésticos também são bem-vindos.
Os tópicos abordados incluem:
- Endocrinologia clássica e reprodutiva
- Endocrinologia clínica e aplicada
- Regulação da secreção hormonal
- Ação hormonal
- Biologia molecular
- Citocinas
- Fatores de crescimento
Formatos aceitos de artigo: original, revisão e notas”
O escopo se enquadrou na sua pesquisa? Seu artigo é um estudo de caso e está permitido pela revista? Ótimo! Mas… Pode ser que você encontre mais de uma revista que se adeque ao seu conteúdo. Então quais os outros fatores que a gente leva em consideração?
A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) tem um sistema para classificar as mais variadas revistas científicas disponíveis, comumente chamado de “Conceito QUALIS CAPES”.
O conceito QUALIS é um sistema muito utilizado, por exemplo, em editais de concursos, que priorizam artigos publicados em revistas chamadas “A1” (mais alto) ou “A2”, que, por sua vez, são melhores que “B1”, “B2”, “B3”, “B4”, “B5” e “C” (esse último mais baixo, peso zero).
Essas categorias mostram a importância relativa de cada revista na área de interesse, então os conceitos variam com a área. Uma revista pode ser considerada A1 para a área de Biodiversidade, mas ser uma revista B3 para área de Medicina Veterinária. Um exemplo é a “General and Comparative Endocrinology”, que é A2 na Medicina Veterinária, porém B2 para Biodiversidade.
Como é calculado o conceito QUALIS?
A periodicidade, o sistema de avaliação dos artigos, a qualidade do corpo editorial, a indexação, a popularidade da revista etc são os critérios utilizados pelo comitê de área da CAPES.
Em geral, as revistas A1 e A2 têm expressão internacional, enquanto as revistas B1 e B2 têm relevância nacional, ao passo que as revistas B3, B4 e B5 têm média relevância, e C são as consideradas inacessíveis para avaliação.
Como podem perceber, esses conceitos são relativos. Mas tudo bem. Tem um outro fator que também é extremamente difundido: o fator de impacto.
Como é calculado o fator de impacto (FI)?
Formalmente, é o número médio de citações que as publicações do último ano fizeram de artigos publicados nos 2 anos anteriores na própria revista (ou 3, ou 5. Varia um pouco). Exemplo: a revista “Domestic Animal Endocrinology” leva em consideração todos os artigos publicados por ela em 2019 e contabiliza quantos outros artigos foram citados, que tenham sido publicados por ela mesma nos últimos 2, 3 ou 5 anos.
Quem relata esse fator é o “Journal of Citation Reports”, que responde pelas suas iniciais JCR, e talvez você já tenha lido em algum lugar.
Esse fator não varia com a área de concentração (e.g. Biodiversidade versus Medicina Veterinária), mas varia com quão abrangente é o público que lê esse periódico.
Um exemplo é a revista “Nature”, com fator de impacto 43, ao passo que a “Science” tem 33, e a revista no exemplo acima, “Domestic Animal Endocrinology”, tem fator de impacto igual a 2.
“Nossa! Então só vou publicar na Nature!”
É o sonho de muita gente. Mas esse alto fator de impacto tem suas consequências: a alta demanda de artigos que a revista recebe e o alto índice de rejeição. Cada revista tem o seu escopo, e não precisa constar na capa da Nature para ser relevante para a sociedade e, sobretudo, para os animais. Além disso, você pode ter uma revista B4 (ex: “Frontiers in Endocrinology”, FI: 3,6) com fator de impacto maior que uma revista A1 (ex: “Endocrine”, FI: 2,9).
Então quando escolhemos a revista ideal, a gente deve:
1) Levantar onde estão sendo publicados os artigos que a gente mais cita nos nossos trabalhos;
2) Se ainda tiver dúvida de qual escolher, baseie-se no conceito QUALIS ou no fator de impacto.
Critérios Avançados
Escolhi a revista. Que outras informações seriam interessante saber?
Preço da Publicação
Muitos periódicos cobram taxas de publicação e essas taxas podem não ser baratas! O preço pode variar entre 150 e 1000 dólares, dependendo da revista. Felizmente algumas delas permitem que você não pague para publicar se você for de um país em desenvolvimento, como o Brasil. Entretanto, alguns projetos podem dispor de verba para cobrir esses gastos. Varia de caso a caso.
Está com pressa para publicar?
Se sim, procure nos artigos recentes daquela revista quando o artigo foi submetido, revisado e aceito. É rápido o suficiente para você?
Acesso Aberto
A política de acesso aberto (“Open Acess Policy”) basicamente permite o acesso online, gratuito e irrestrito ao seu artigo. Dependendo da revista, este livre acesso pode estar disponível imediatamente após a publicação ou o seu artigo pode permanecer sob “embargo” (estando acessível apenas para pagantes).
Finalizando…
Esses são os principais critérios. Independente da escolha, é importante que os seus resultados se tornem públicos (tanto os resultados negativos quanto positivos). Para que a ciência ande para frente, devemos aprender com o que já foi feito por alguém do outro lado do país (ou do mundo!).
Fontes:
https://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacaotrienal/Docs_de_area/qualis/ensino.pdf
https://blog.doity.com.br/o-que-e-qualis-capes/
https://blog.frontiersin.org/2018/07/02/impact-factor-scientific-academic-journal-ranking-report/
Texto elaborado por:
Gisela Sobral
Bióloga, Membra do Corpo Editorial da empresa Pesquisas Hormonais e do Movimento Hormone Lovers
Gabriela Siqueira Martins
Veterinária, Membra do Corpo Editorial da empresa Pesquisas Hormonais e do Movimento Hormone Lovers
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